domingo, 2 de março de 2008

“Mercúrio ao cromo”(ou aos cromos)

Manda a tradição que as mulheres se embelezem com as mais variadas ornamentações e pinturas, pois, por estas bandas, para se embelezarem e para festejarem eventos as mulheres recorrem a “Hemme”. Trata-se de uma planta similar à do chá com a qual se prepara uma substância avermelhada, muito ao jeito do mercurocromo. E perguntam vocês, o que fazem elas com essa substância? Pintam as palmas das mãos, seja a palma completa seja apenas um pequeno círculo. A primeira vez que observei este fenómeno pensei: “Coitada da mulher, arranhou as mãos todas, e pimba, mercurocromo para cima”. Mas não, apesar de ter um aspecto horrível, este acto serve para celebrar eventos, seja para recém-casados (e neste caso o homem também leva a marca), seja em festas tradicionais como forma de comemoração e de embelezamento. Tal como o mercurocromo, esta substância também não sai com as primeiras lavagem, dura sempre alguns dias. Além deste aspecto estético (quando me refiro a estético, estou a falar do ponto de vista árabe) ao que parece esta substância também tem funções medicinais (lá está, tal como o mercurocromo) por isso além da palma das mãos também costumam pintar a palma dos pés, deve ser para tratar dos fungos. Existe também uma versão mais moderna, que em vez de se pintar a palma das mãos, se faz tatuagens ao longo da mesma até ao cotovelo, sempre é uma forma mais agradável de se maquiar, em vez da tradicional mão pintada, que parece ter saído de um filme de terror. Se a moda pega por essas bandas, esgota-se o “mercúrio ao cromo”.
Redoah, Inxalá

sábado, 9 de fevereiro de 2008

O Carnaval é quando um árabe quiser

Na sequência de um dos comentários do blog, decidi aproveitar a sugestão e falar um pouco do Carnaval por estas bandas. Aqui não existe uma data específica para o Carnaval, pois este desenrola-se todo o ano, todos os dias vemos o pessoal mascarado de tuareg, com os seus turbantes na cabeça e as mulheres com o naperon a tapar a face (ver foto), como se estivessem a brincar aos médicos e enfermeiras. O dia mais expressivo desta celebração é a Sexta-feira (Corresponde nosso Domingo), onde a maior parte deles se mascara de empregado de balcão ou de enfermeiro, todos com as suas túnicas brancas. Muitos deles também se mascaram de polícias, pois costuma-se ver dezenas deles ao longo da estrada a fazer de conta que fazem operações stop, mas às tantas lá vemos parar um carro e sair um indivíduo, e toma lá duas valentes beijocas no polícia - só pode ser Carnaval pensamos nós. Quanto às brincadeiras tradicionais da quadra, por aqui também temos as famosas bombas de Carnaval que aqui rebentam como cogumelos e lá vão uns quantos para o céu. Os tradicionais ovos na cabeça, para sujar a cabeça e a roupa, aqui não funcionam pois suja-se o ovo. Quanto atirar sacos com água não tem muito sucesso pois o pessoal já anda ocupado a transportar a garrafinha de água de litro e meio para se lavar após a “mijinha”. Quanto aos estrangeiros tem de se adaptar e entrar no esquema, para se misturar com o resto da população (Ver foto do tuareg), ou seja brincar ao Carnaval.

Redoah, Inxalá

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Uma refeição equilibrada

Comer numa das inúmeras tascas existentes na Argélia, é sempre uma experiência enriquecedora e fortificante. Na verdade, depois de comermos num destes locais e sobrevivermos, nada mais nos fará mal. É numa destas tascas, onde já somos assíduos frequentadores, que costumamos comer um franguinho de Kedadra, parecido com os da Guia, mas mais naturais, menos lavadinhos. A procura é muita, dado que a oferta é pouca, por isso, tal como nos sítios requintados, temos de reservar com antecedência. Ao chegarmos à tasca, costumamos fazer o teste do algodão na mesa, neste caso com o guardanapo, mas ele fica tão preto que julgo que no futuro iremos dispensar esta formalidade e aceitar que limpeza deficitária faz parte integrante da tradição local. O frango é servido num prato de sobremesa, sendo a dose é constituída por uma perna ou asa do bicho, o que para estes lados já dá para duas ou mais pessoas. O acompanhamento é à parte, à semelhança do frango da Guia, sendo constituído por batatas fritas bem oleosas, arroz de açafrão bem consistente, eu diria uma espécie de risotto argelino, e ainda um puré com um molho para o qual até a data se desconhece a sua proveniência. Quem quiser tem sempre um prato alternativo, que eles denominam omoleta de atum, que não passa de atum de lata misturado com bocados de ovo. As sobremesas resumem-se aos embalados disponíveis no local, seja pudim, seja iogurte. Para terminar um cafezinho bem negro, o qual ao fim de um mês já parece o melhor café do mundo. Quanto ao preço não vai além dos dois euros. E como diz o provérbio - “o que não nos mata, fortalece-nos”.

Redoah, inchála

domingo, 27 de janeiro de 2008

Onde comer…

Nas belas terras da Argélia não faltam locais para satisfazer a fome desde que para isso se tenha estômago para o fazer. Em primeiro lugar, temos de classificar estes estabelecimentos dividindo-os em 4 categorias. Na quarta categoria temos as tascas, locais de cheiros intensos, sem mesas nem cadeiras, serviço de pé onde geralmente só se come sandokas feitas de acordo com as normas de higiene locais, ou seja vale tudo. Na terceira categoria, enquadram-se as tabernas, já com mesas e cadeiras, geralmente a limpeza das mesas é efectuada uma vez por dia ou então o pano para as limpar é o mesmo ao longo de todo o mês. Estes locais já apresentam um prato do dia, normalmente frango ou borrego acompanhado de batatas fritas bem oleosas, os talheres limitam-se ao garfo. Nestas duas categorias, o café parece alcatrão, o açucareiro é comum, as colheres são metidas num copo de água no balcão e tanto servem para mexer o café como para retirar o açúcar, além deste aspecto em comum, também têm outro : as mulheres não podem entrar nestes locais. Numa segunda categoria temos os restaurantes onde já existe alguma higiene, as mulheres já podem entrar e cada um já tem o seu torrão de açúcar; as inúmeras pizzarias podem enquadrar-se nesta categoria. Na primeira categoria já temos restaurantes de nível europeu, onde os preços já são elevados e já se pode beber álcool. Por curiosidade, refira-se que em Mostaganem não existe nenhum desta última classificação. A aventura de frequentar estes sítios será desvendada no próximo artigo. Já agora, por aqui se quisermos comer bem, o melhor e mais barato de todos é na casa de qualquer português que saiba cozinhar!
Redoah, Inchalá

domingo, 20 de janeiro de 2008

PDM – Plano de Degradação de Mostaganem

Mostaganem à semelhança de muitas das cidades da Argélia tem muitos dos seus mais característicos prédios, construídos na década de 50 e na maior parte dos casos em grande estado de degradação dado que a manutenção das infra-estruturas é desconhecida por estes lados, a cidade parece ter parado a 40 anos e só agora começa a mexer. Assim ao lado destes edifícios, crescem uma série de prédios e casas de péssima qualidade, de construção visível nas fachadas, em muitas das casas o estilo barroco do tijolo à vista impera. O plano director de Mostaganem baseia-se num estilo”dégradé”, onde o estilo sujo das casas e os tons laranja do tijolo sobressaem, sobretudo nos muitos prédios inacabados mas já com janelas de madeira e muitos já habitados. Cada habitação é um estilo diferente e muito próprio da imaginação do seu proprietário tanto no exterior como no interior. Aliás esse aspecto está bem patente na divisão interior das habitações, onde em muitos casos vivendas com 3 pisos e onde vivem cerca de 6 a 7 pessoas apenas têm um casa de banho, provavelmente implementam um sistema de horários ou de senhas. Outra das características exteriores baseia-se na visão de futuro dos seus construtores, pois a maior parte das casas tem os ferros de construção a saírem da última laje, para se poder expandir mais um piso para quando a família aumentar. Esta situação é visível mesmo em vivendas de três andares com terraço. As ruas esburacadas ou de terra batida cheias de buracos completam este ramalhete de qualidade, harmonia e limpeza da cidade. É esta visão encantadora com que acordamos todas as manhãs para enfrentar mais um dia na bela cidade de Mostaganem.

Redoah, Inchalá

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

“Id al-Kebir”

Depois de um período de interregno por motivos religiosos, eis-me de volta a Djzzair (Argélia para o pessoal que ainda não domina o árabe), para vos falar de uma das mais importantes celebrações do mundo muçulmano que dura dois dias, “Id al-Kebir”, uma espécie de natal árabe, que se realiza cerca de 70 dias após o fim do Ramadão. Esta imprecisão depende da Lua, aliás, aqui, os feriados que calham no fim-de-semana costumam deslizar de modo a termos um fim-de-semana de três dias, para a tradicional escapadinha e a culpa é da Lua. Esta festa é também denominada a “A grande Festa” em oposição a “Id al-Fitr” “A pequena Festa”, mas até a data ninguém me sabe explicar esta ampliação. A festa assinala o fim da peregrinação a Meca (a ver num próximo artigo), sendo o ponto alto desta festa, o sacrifício do carneiro. Todas as famílias sacrificam ritualmente um carneiro; como devem imaginar, nos dias que antecedem a festa é carneiros por todo o lado, é um cheiro a estrume que se sobrepõe ao tradicional cheiro já existente. Mesmo aqueles que vivem em apartamentos levam o carneiro para casa de véspera, e lá fica ele ou no corredor ou a ver televisão à espera que, no dia seguinte, lhe cortem a cabeça. Nesse dia são mortos, quase em simultâneo, milhares de carneiros. E perguntam vocês, mas que culpa teve o carneiro? A verdade é que reza a lenda que Abraão não conseguia ter filhos e solicitou a ajuda divina, tendo-lhe Alá concedido um filho, mas para testar a sua fé solicitou-lhe, de seguida, que o degolasse. Para comprovar a sua fé, ele assim o fez, mas quando ia cortar o pescoço do filho, Alá substituiu o filho por um carneiro, razão pela qual tramaram os carneiros. Queria ver se fosse um camelo, onde é que o pessoal guardava o bicho, talvez na varanda.

Redoah, Inchalá

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Árabe – Lição 1

Depois de mais de um ano em terras muçulmanas, muitos de nós já conseguem dizer várias palavras árabes (nomeadamente aquelas que toda a gente aprende primeiro) e alguns até já sabem pequenas frases. No entanto, só conseguindo dominar a escrita se pode conseguir falar o árabe e isso já não é para todos. Como sabem este blog tem também uma componente educativa e cultural que emerge do seu autor; assim sendo, vou aqui dar-vos um pequeno lamiré sobre o assunto. Em primeiro lugar um indivíduo que queira escrever árabe tem de ter um diploma de desenho artístico para conseguir escrever as letras e tem que habituar o seu cerebrozinho a escrever ao contrário, da direita para a esquerda (da limena para a lessera). Em seguida, há que saber que o abecedário árabe tem 28 letras e cada uma delas tem 9 sons diferentes dependendo do apêndice que se colocar. Quanto à grafia de cada letra, para ajudar a apertar o nó, esta pode variar consoante esteja no início, no meio ou no fim da palavra. Como podem ver na foto, é necessária alguma técnica e perícia para escrever árabe, e dou um doce a quem me disser o que lá está escrito (Refira-se que foi escrito por um tuga). Pode parecer complicado e na realidade é mesmo, a única maneira é integrar-se e assimilar a cultura “in Algeria be an algerian”


Rdoah Inchála