domingo, 27 de janeiro de 2008

Onde comer…

Nas belas terras da Argélia não faltam locais para satisfazer a fome desde que para isso se tenha estômago para o fazer. Em primeiro lugar, temos de classificar estes estabelecimentos dividindo-os em 4 categorias. Na quarta categoria temos as tascas, locais de cheiros intensos, sem mesas nem cadeiras, serviço de pé onde geralmente só se come sandokas feitas de acordo com as normas de higiene locais, ou seja vale tudo. Na terceira categoria, enquadram-se as tabernas, já com mesas e cadeiras, geralmente a limpeza das mesas é efectuada uma vez por dia ou então o pano para as limpar é o mesmo ao longo de todo o mês. Estes locais já apresentam um prato do dia, normalmente frango ou borrego acompanhado de batatas fritas bem oleosas, os talheres limitam-se ao garfo. Nestas duas categorias, o café parece alcatrão, o açucareiro é comum, as colheres são metidas num copo de água no balcão e tanto servem para mexer o café como para retirar o açúcar, além deste aspecto em comum, também têm outro : as mulheres não podem entrar nestes locais. Numa segunda categoria temos os restaurantes onde já existe alguma higiene, as mulheres já podem entrar e cada um já tem o seu torrão de açúcar; as inúmeras pizzarias podem enquadrar-se nesta categoria. Na primeira categoria já temos restaurantes de nível europeu, onde os preços já são elevados e já se pode beber álcool. Por curiosidade, refira-se que em Mostaganem não existe nenhum desta última classificação. A aventura de frequentar estes sítios será desvendada no próximo artigo. Já agora, por aqui se quisermos comer bem, o melhor e mais barato de todos é na casa de qualquer português que saiba cozinhar!
Redoah, Inchalá

domingo, 20 de janeiro de 2008

PDM – Plano de Degradação de Mostaganem

Mostaganem à semelhança de muitas das cidades da Argélia tem muitos dos seus mais característicos prédios, construídos na década de 50 e na maior parte dos casos em grande estado de degradação dado que a manutenção das infra-estruturas é desconhecida por estes lados, a cidade parece ter parado a 40 anos e só agora começa a mexer. Assim ao lado destes edifícios, crescem uma série de prédios e casas de péssima qualidade, de construção visível nas fachadas, em muitas das casas o estilo barroco do tijolo à vista impera. O plano director de Mostaganem baseia-se num estilo”dégradé”, onde o estilo sujo das casas e os tons laranja do tijolo sobressaem, sobretudo nos muitos prédios inacabados mas já com janelas de madeira e muitos já habitados. Cada habitação é um estilo diferente e muito próprio da imaginação do seu proprietário tanto no exterior como no interior. Aliás esse aspecto está bem patente na divisão interior das habitações, onde em muitos casos vivendas com 3 pisos e onde vivem cerca de 6 a 7 pessoas apenas têm um casa de banho, provavelmente implementam um sistema de horários ou de senhas. Outra das características exteriores baseia-se na visão de futuro dos seus construtores, pois a maior parte das casas tem os ferros de construção a saírem da última laje, para se poder expandir mais um piso para quando a família aumentar. Esta situação é visível mesmo em vivendas de três andares com terraço. As ruas esburacadas ou de terra batida cheias de buracos completam este ramalhete de qualidade, harmonia e limpeza da cidade. É esta visão encantadora com que acordamos todas as manhãs para enfrentar mais um dia na bela cidade de Mostaganem.

Redoah, Inchalá

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

“Id al-Kebir”

Depois de um período de interregno por motivos religiosos, eis-me de volta a Djzzair (Argélia para o pessoal que ainda não domina o árabe), para vos falar de uma das mais importantes celebrações do mundo muçulmano que dura dois dias, “Id al-Kebir”, uma espécie de natal árabe, que se realiza cerca de 70 dias após o fim do Ramadão. Esta imprecisão depende da Lua, aliás, aqui, os feriados que calham no fim-de-semana costumam deslizar de modo a termos um fim-de-semana de três dias, para a tradicional escapadinha e a culpa é da Lua. Esta festa é também denominada a “A grande Festa” em oposição a “Id al-Fitr” “A pequena Festa”, mas até a data ninguém me sabe explicar esta ampliação. A festa assinala o fim da peregrinação a Meca (a ver num próximo artigo), sendo o ponto alto desta festa, o sacrifício do carneiro. Todas as famílias sacrificam ritualmente um carneiro; como devem imaginar, nos dias que antecedem a festa é carneiros por todo o lado, é um cheiro a estrume que se sobrepõe ao tradicional cheiro já existente. Mesmo aqueles que vivem em apartamentos levam o carneiro para casa de véspera, e lá fica ele ou no corredor ou a ver televisão à espera que, no dia seguinte, lhe cortem a cabeça. Nesse dia são mortos, quase em simultâneo, milhares de carneiros. E perguntam vocês, mas que culpa teve o carneiro? A verdade é que reza a lenda que Abraão não conseguia ter filhos e solicitou a ajuda divina, tendo-lhe Alá concedido um filho, mas para testar a sua fé solicitou-lhe, de seguida, que o degolasse. Para comprovar a sua fé, ele assim o fez, mas quando ia cortar o pescoço do filho, Alá substituiu o filho por um carneiro, razão pela qual tramaram os carneiros. Queria ver se fosse um camelo, onde é que o pessoal guardava o bicho, talvez na varanda.

Redoah, Inchalá