sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Relações Humanas

Sbalrer, caros cibernautas, cá estou eu de regresso às crónicas semanais e hoje com algo diferente. Não vou falar das peculiaridades desta terra abençoada mas das relações entre os expatriados que cá vivem e convivem. A verdade é que ao pensarmos que existe um conjunto de estrangeiros inseridos num ambiente diferente dos seus hábitos, seria expectável haver uma maior proximidade entre as pessoas e uma união no grupo inerente a este facto. No entanto, a realidade é diferente dado que ninguém se lembra que a maior proximidade também faz com que as pessoas convivam mais tempo e que os hábitos de cada um venham à superfície. No princípio, efectivamente, as pessoas refugiam-se entre elas e formam uma pequena comunidade unida, mas com o passar do tempo as relações deterioraram-se, a amizade e camaradagem dá lugar ao afastamento e à intriga. Recordo-me, perfeitamente, das inúmeras patuscadas nas quais participei onde chegávamos a reunir um grupo elevado de pessoas e se falava em alegre cavaqueira para tentar esquecer o sítio onde estávamos e recordar um pouco as nossas origens. À data de hoje, posso afirmar que há mais de três meses que isso deixou de existir essas patuscadas e não vejo qualquer hipótese da organização de novas. Hoje em dia, o convívio é feito com grupos mais pequenos de 3 ou 4 elementos, lá diz o proverbio mudam-se os tempos, muda-se as vontades, nem sempre para melhor. Não sei se este exemplo é representativo da realidade global, mas, infelizmente, parece-me que sim. É com tristeza que digo que as pessoas não sabem, nem querem viver em comunidade, cada um de nós apenas quer o seu espaço e é só com isso que se preocupa. Quantos de nós não conhecem, nem sabem o nome dos vizinhos do prédio onde moram há uma série de anos. Porque a vida não é só alegrias e pode ser que falar das questões ajude a mudar alguma coisa, senão fico pela tentativa de o fazer.

Redoah Inchalá

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Venda Ambulante

Tal como em Portugal também aqui se vende muitos produtos a beira da estrada, normalmente produtos alimentares. A entrada de Mostaganem existe uma recta que poderemos apelidar da recta do pão, de 40 em 40 metros estão uns miúdos de cerca de 9/10 anos a vender pão dentro de uns cestos. Além do pão também vendem ovos e leite engarrafado em garrafas plásticas de água; leite de qualidade superior, fresquinho, directamente do produtor. O pão é acondicionando sem qualquer tipo de cuidado higiénico estando ao sol, ao pó e sendo manuseado pelas mãos limpinhas dos argelinos, aliás penso que são estes ingredientes que lhe conferem um sabor especial. Por estas bandas o pão ou é baguete ou então redondo tipo uma broa, não é vulgar a tradicional carcaça. Além destes estabelecimentos ambulantes, nas padarias as baguetes são colocadas em cestos em arame no chão. Para o transportar, usualmente o pessoal coloca-o debaixo do braço seja a andar a pé ou de mota, já nos carros ou vai no banco de trás ou no sitio mais característico, no tablier do carro. O peixe é outro dos alimentos vendido a beira da estrada, como Mostaganem é uma cidade costeira, apesar de não haver uma frota de pesca, existem alguns pescadores. Estes improvisam uma bancada para vender o seu produto, por vezes é um pau espetado com os peixes pendurados em escadinha, também aqui a higiene é cinco estrelas. Mas depois de grelhadinho, nem se nota os germes, quanto ao sabor, aí já depende do cozinheiro. Quem me conhece sabe que eu faço um excelente atum de lata com uma batatinha frita de pacote, claro. Na próxima semana não haverá crónica, por razões de força maior.

Até lá, redoah, inxalá.

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Os SPA's do oriente

A Sexta-feira por estas bandas, é o dia de todos irem a mesquita. Apesar de também irem nos outros dias, à Sexta é um dia especial, à semelhança do nosso Domingo. É neste dia que o pessoal toma um banho especial e veste o seu melhor lençol, quer dizer túnica branca, quando se aproximam da mesquita, parecem um conjunto de lençóis a esvoaçar ao vento. Um dos rituais deste dia é portanto o banho, e quando se fala em banho não estamos a falar de um duche em casa, até porque muitos deles nem têm essas modernices, trata-se de ir a uns estabelecimentos de banho colectivo existentes, tipo um SPA (Deve ter sido assim que começaram). Este ritual chama-se o “Hamman”, o pessoal dirige-se aos banhos colectivos, mulheres para um lado e homens para outro (of course, colectivo mas não tanto). O custo do banho é irrisório e quanto a processo propriamente dito apenas posso descreve-lo pelo que oiço, dado que ainda não usufrui desta maravilha do oriente. Os homens despem-se e vão para uma zona tal e qual o nosso banho turco, seguindo-se nalguns casos um duche, noutros, uma passagem por uma piscina (Acho que preferia o duche). Existe depois a opção de uma massagem por um individuo 2x2 que deixa o corpinho todo vermelho de tanta esfrega. Para as mulheres o ritual é semelhante, só inclui mais um banquinho que elas trazem de casa para se sentarem na parte do banho turco, onde existem umas bacias para a lavagem das partes mais baixas (chap-chap). Após este banho, os muçulmanos ficam purificados e já podem ir pregar a Alá sem esquecer claro de descalçar os sapatitos, para entrar descalços na mesquita. Se não lavassem os pés, nem imagino o cheirinho que seria no interior.

Redoah, Inxalá

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Quinta-feira Night

Cá estou eu de volta a este maravilhoso país para vos falar um pouco do nosso tempo de lazer. Como alguns de vocês sabem aqui o fim-de-semana é a Quinta e Sexta, sendo o Sábado e Domingo dias normais de trabalho, por isso além duma futebolada de vez em quando, os nossos únicos momentos de distracção são as jantaradas à Quinta-feira à noite. Mas dado que Mostaganem é uma cidade perdida no tempo, temos de nos deslocar a Oran para encontrarmos um restaurante decente e que sirva umas cervejitas, ou seja temos de percorrer 90 km para arranjarmos um restaurante de jeito mas à falta de melhor, compensa. As opções não são muitas e desta vez fomos a um que tem música ao vivo, com um pequeno espaço para dançar. Grande parte da clientela são homens e o cantor é um bocado abichanado, para variar. A ementa já é conhecida pois é sempre a mesma, a única coisa que varia é o preço, e neste restaurante existe a particularidade de um dos pratos, o “filet de vaca”, nunca há. A explicação é sempre a mesma, só vem um “filet “ por semana, deve ser tradição, e nós para não variar pedimos sempre o “filet”, para ouvirmos a explicação. Aqui pelo menos não existe muitas dúvidas na escolha dos vinhos só tem dois ou três, deve ser para facilitar a escolha. Felizmente a musica não é árabe mas nem por isso esquecemos que estamos aqui, pois quando o vinho lhes faz efeito eis que aparecem os homens a dançar entre eles (Que cena triste!!!). A sobremesa também não varia e é igual em todos os restaurantes ( Salade de fruit, Pudim caramel e Mousse au chocolat). No regresso lá passamos pela zona junto ao mar em Oran onde se encontram dezenas de carros, com dois ou três homens no seu interior, provavelmente estão a ouvir os relatos da bola. Se em Portugal a Quinta-feira é “Lady’s Night”, na Argélia a Quinta é “Men’s Night”. Meu Deus tira-me deste filme………..

Redoah, Inxalá