sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Árabe – Lição 1

Depois de mais de um ano em terras muçulmanas, muitos de nós já conseguem dizer várias palavras árabes (nomeadamente aquelas que toda a gente aprende primeiro) e alguns até já sabem pequenas frases. No entanto, só conseguindo dominar a escrita se pode conseguir falar o árabe e isso já não é para todos. Como sabem este blog tem também uma componente educativa e cultural que emerge do seu autor; assim sendo, vou aqui dar-vos um pequeno lamiré sobre o assunto. Em primeiro lugar um indivíduo que queira escrever árabe tem de ter um diploma de desenho artístico para conseguir escrever as letras e tem que habituar o seu cerebrozinho a escrever ao contrário, da direita para a esquerda (da limena para a lessera). Em seguida, há que saber que o abecedário árabe tem 28 letras e cada uma delas tem 9 sons diferentes dependendo do apêndice que se colocar. Quanto à grafia de cada letra, para ajudar a apertar o nó, esta pode variar consoante esteja no início, no meio ou no fim da palavra. Como podem ver na foto, é necessária alguma técnica e perícia para escrever árabe, e dou um doce a quem me disser o que lá está escrito (Refira-se que foi escrito por um tuga). Pode parecer complicado e na realidade é mesmo, a única maneira é integrar-se e assimilar a cultura “in Algeria be an algerian”


Rdoah Inchála

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Chá de menta – O segredo

O chá e o café são as bebidas de eleição na Argélia, mas é no chá que se encontra todo o mistério, a tradição e a sedução do famoso “ Thé à la mente”, cujos segredos de confecção permaneciam, até a data, propriedade dos árabes. No entanto, graças à persistência, prospecção e dedicação de alguns dos nossos colegas, pode-se afirmar que, actualmente, a confecção de um dos melhores “Thé à la mente” de Mostaganem é portuguesa. (Portuguese do it better). O processo é revestido de requinte e técnica, e inicia-se com a fervura da água num recipiente apropriado denominado “Chaleira”. A água tem de ser engarrafada na Argélia de modo a que traga com ela, todas as características dos solos da zona. A fervura é efectuada até aos 101ºC, para obtenção da chamada “Água de Alá”. Em paralelo introduz-se chá verde, adquirido nas mais obscuras mercearias de Mostaganem, num bule especial, um bule Tuareg (ver foto). Em seguida, verte-se um pedacinho da água de Alá, e mexe-se rapidamente (mexido, não batido ao contrário do Martini do James Bond) para “abrir” o chá, retirando-se de imediato a água, deixando-se o chá húmido. Após um breve repouso, introduzimos toda a água de Alá (agora já próxima dos 97,5ºC) no bule, adicionamos a menta fresca, lavada como o fruto de Bocage, e colocam-se os torrões de açúcar q.b. Depois de deixar oxigenar o chá, o que se consegue vertendo-se o chá num recipiente e de imediato reintroduzindo-o ao bule; este processo é repetido tantas vezes quantas a sabedoria do operador ordenar. Finalmente, o chá está pronto a servir, o qual deve ser feito com todo o preceito e técnica, dado que para além do chá ter de ser servido em copos apropriados, ele deve ser introduzido nos mesmos a uma distância não inferior à 93 cm (foto 2), de modo a criar a “mousse” (ver foto 3) similar ao creme no café. É claro que está operação não está ao alcance de qualquer mortal, apenas os escolhidos tem esse dom. Por fim, saboreia-se o néctar de Alá cujos efeitos positivos no corpo e alma me escuso de divulgar … venham e experimentem.

Redoah Inchalá

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Relações Humanas

Sbalrer, caros cibernautas, cá estou eu de regresso às crónicas semanais e hoje com algo diferente. Não vou falar das peculiaridades desta terra abençoada mas das relações entre os expatriados que cá vivem e convivem. A verdade é que ao pensarmos que existe um conjunto de estrangeiros inseridos num ambiente diferente dos seus hábitos, seria expectável haver uma maior proximidade entre as pessoas e uma união no grupo inerente a este facto. No entanto, a realidade é diferente dado que ninguém se lembra que a maior proximidade também faz com que as pessoas convivam mais tempo e que os hábitos de cada um venham à superfície. No princípio, efectivamente, as pessoas refugiam-se entre elas e formam uma pequena comunidade unida, mas com o passar do tempo as relações deterioraram-se, a amizade e camaradagem dá lugar ao afastamento e à intriga. Recordo-me, perfeitamente, das inúmeras patuscadas nas quais participei onde chegávamos a reunir um grupo elevado de pessoas e se falava em alegre cavaqueira para tentar esquecer o sítio onde estávamos e recordar um pouco as nossas origens. À data de hoje, posso afirmar que há mais de três meses que isso deixou de existir essas patuscadas e não vejo qualquer hipótese da organização de novas. Hoje em dia, o convívio é feito com grupos mais pequenos de 3 ou 4 elementos, lá diz o proverbio mudam-se os tempos, muda-se as vontades, nem sempre para melhor. Não sei se este exemplo é representativo da realidade global, mas, infelizmente, parece-me que sim. É com tristeza que digo que as pessoas não sabem, nem querem viver em comunidade, cada um de nós apenas quer o seu espaço e é só com isso que se preocupa. Quantos de nós não conhecem, nem sabem o nome dos vizinhos do prédio onde moram há uma série de anos. Porque a vida não é só alegrias e pode ser que falar das questões ajude a mudar alguma coisa, senão fico pela tentativa de o fazer.

Redoah Inchalá

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Venda Ambulante

Tal como em Portugal também aqui se vende muitos produtos a beira da estrada, normalmente produtos alimentares. A entrada de Mostaganem existe uma recta que poderemos apelidar da recta do pão, de 40 em 40 metros estão uns miúdos de cerca de 9/10 anos a vender pão dentro de uns cestos. Além do pão também vendem ovos e leite engarrafado em garrafas plásticas de água; leite de qualidade superior, fresquinho, directamente do produtor. O pão é acondicionando sem qualquer tipo de cuidado higiénico estando ao sol, ao pó e sendo manuseado pelas mãos limpinhas dos argelinos, aliás penso que são estes ingredientes que lhe conferem um sabor especial. Por estas bandas o pão ou é baguete ou então redondo tipo uma broa, não é vulgar a tradicional carcaça. Além destes estabelecimentos ambulantes, nas padarias as baguetes são colocadas em cestos em arame no chão. Para o transportar, usualmente o pessoal coloca-o debaixo do braço seja a andar a pé ou de mota, já nos carros ou vai no banco de trás ou no sitio mais característico, no tablier do carro. O peixe é outro dos alimentos vendido a beira da estrada, como Mostaganem é uma cidade costeira, apesar de não haver uma frota de pesca, existem alguns pescadores. Estes improvisam uma bancada para vender o seu produto, por vezes é um pau espetado com os peixes pendurados em escadinha, também aqui a higiene é cinco estrelas. Mas depois de grelhadinho, nem se nota os germes, quanto ao sabor, aí já depende do cozinheiro. Quem me conhece sabe que eu faço um excelente atum de lata com uma batatinha frita de pacote, claro. Na próxima semana não haverá crónica, por razões de força maior.

Até lá, redoah, inxalá.

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Os SPA's do oriente

A Sexta-feira por estas bandas, é o dia de todos irem a mesquita. Apesar de também irem nos outros dias, à Sexta é um dia especial, à semelhança do nosso Domingo. É neste dia que o pessoal toma um banho especial e veste o seu melhor lençol, quer dizer túnica branca, quando se aproximam da mesquita, parecem um conjunto de lençóis a esvoaçar ao vento. Um dos rituais deste dia é portanto o banho, e quando se fala em banho não estamos a falar de um duche em casa, até porque muitos deles nem têm essas modernices, trata-se de ir a uns estabelecimentos de banho colectivo existentes, tipo um SPA (Deve ter sido assim que começaram). Este ritual chama-se o “Hamman”, o pessoal dirige-se aos banhos colectivos, mulheres para um lado e homens para outro (of course, colectivo mas não tanto). O custo do banho é irrisório e quanto a processo propriamente dito apenas posso descreve-lo pelo que oiço, dado que ainda não usufrui desta maravilha do oriente. Os homens despem-se e vão para uma zona tal e qual o nosso banho turco, seguindo-se nalguns casos um duche, noutros, uma passagem por uma piscina (Acho que preferia o duche). Existe depois a opção de uma massagem por um individuo 2x2 que deixa o corpinho todo vermelho de tanta esfrega. Para as mulheres o ritual é semelhante, só inclui mais um banquinho que elas trazem de casa para se sentarem na parte do banho turco, onde existem umas bacias para a lavagem das partes mais baixas (chap-chap). Após este banho, os muçulmanos ficam purificados e já podem ir pregar a Alá sem esquecer claro de descalçar os sapatitos, para entrar descalços na mesquita. Se não lavassem os pés, nem imagino o cheirinho que seria no interior.

Redoah, Inxalá

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Quinta-feira Night

Cá estou eu de volta a este maravilhoso país para vos falar um pouco do nosso tempo de lazer. Como alguns de vocês sabem aqui o fim-de-semana é a Quinta e Sexta, sendo o Sábado e Domingo dias normais de trabalho, por isso além duma futebolada de vez em quando, os nossos únicos momentos de distracção são as jantaradas à Quinta-feira à noite. Mas dado que Mostaganem é uma cidade perdida no tempo, temos de nos deslocar a Oran para encontrarmos um restaurante decente e que sirva umas cervejitas, ou seja temos de percorrer 90 km para arranjarmos um restaurante de jeito mas à falta de melhor, compensa. As opções não são muitas e desta vez fomos a um que tem música ao vivo, com um pequeno espaço para dançar. Grande parte da clientela são homens e o cantor é um bocado abichanado, para variar. A ementa já é conhecida pois é sempre a mesma, a única coisa que varia é o preço, e neste restaurante existe a particularidade de um dos pratos, o “filet de vaca”, nunca há. A explicação é sempre a mesma, só vem um “filet “ por semana, deve ser tradição, e nós para não variar pedimos sempre o “filet”, para ouvirmos a explicação. Aqui pelo menos não existe muitas dúvidas na escolha dos vinhos só tem dois ou três, deve ser para facilitar a escolha. Felizmente a musica não é árabe mas nem por isso esquecemos que estamos aqui, pois quando o vinho lhes faz efeito eis que aparecem os homens a dançar entre eles (Que cena triste!!!). A sobremesa também não varia e é igual em todos os restaurantes ( Salade de fruit, Pudim caramel e Mousse au chocolat). No regresso lá passamos pela zona junto ao mar em Oran onde se encontram dezenas de carros, com dois ou três homens no seu interior, provavelmente estão a ouvir os relatos da bola. Se em Portugal a Quinta-feira é “Lady’s Night”, na Argélia a Quinta é “Men’s Night”. Meu Deus tira-me deste filme………..

Redoah, Inxalá

sábado, 20 de outubro de 2007

O descanso do Tuareg

Caros cibervisitantes, esta Sexta-feira que passou e a próxima não haverá crónica pois tive de regressar a Portugal para renovar o visto. Sim porque a Argélia é um pais tão procurado que não é qualquer um que lá entra, só os priveligiados. Entretanto aproveito para comer uns pratinhos de carne de porco.

Redoah, Inchalá

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

O fim do silêncio das 19h

Hoje termina o Ramadão, durante os últimos 30 dias assistimos diariamente a um ritual que transforma Mostaganem numa cidade fantasma durante um período em torno das 19 horas. Como é do conhecimento geral os muçulmanos, durante este mês, não comem, não bebem, não fumam, nem truc-truc do nascer ao pôr do sol, deste modo quando se aproxima o pôr do sol, vão todos para casa para se prepararem para o repasto. As ruas da cidade ficam desertas, não se vê um único carro, existe uma estranha calma, um silêncio de ouro, talvez o período mais bonito do dia. Mas como tudo o que é bom acaba, passado este período o povo invade as ruas e os cafés até de madrugada e quase não se pode andar, o transito fica parado, as lojas estão todas abertas(ver foto), “Mosta by night” parece a marina de Vilamoura no pico do verão, claro que ressalvado o facto de que na marina, a qualidade e quantidade feminina é muito superior, não há comparação (Que saudades !!! ). O curioso é que ontem ao fim do dia de ontem, os argelinos ainda não sabiam se o Ramadão acabava ontem ou hoje. Tivemos esperar que os líderes religiosos vissem a lua, como sinal que tinha terminado o mês lunar, pelos vistos não viram. O Ramadão termina com “Ida al-Fitr”, a “Festa da Quebra do Jejum”, o primeiro dia do mês Shawwal, com duração de dois dias. Após um mês de baixo rendimento, mais dois dias de papo para o ar que na pratica se transformam em quatro, dado que se seguem ao fim de semana argelino. Deve ser para dar uma escapadela pelas pousadas de Portugal.

Redoah Inchála

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Barragens Policiais

Uma das muitas particularidades das estradas argelinas são as barragens policiais, que se encontram por todo lado, dos diferentes ramos das forças de segurança equivalentes às nossas GNR, PSP e policia fiscal. Normalmente colocam um sinal de aviso de barragem a 5 metros e posicionam-se no meio da estrada, um elemento para cada sentido estando outro mais a frente com uma metralhadora e uma corrente de picos para furar os pneus aqueles que não pararem. O procedimento a seguir é sempre o mesmo, abrandar, quase, quase parar e aguardar que o policia levante a mão como sinal, de pode seguir. Como devem imaginar ele executa este mesmo movimento milhares de vezes por dia, o que quer dizer que daqui a uns anos ele pode se reformar por doença profissional com uma tendinite no braço. Á noite o procedimento é complementado com mais duas operações primeiro desligar os médios para não encandear a rapaziada e depois acender as luzes interiores para eles verem quem vai dentro da viatura. Dado que em muitas situações a iluminação é fraca corremos o risco, quando desligamos os médios, de os atropelar. Por vezes somos mandados encostar, primeiro começam por falar em árabe ao que malta responde “no árabe”, depois pedem os documentos, mas também pode perguntar apenas se temos água para lhes dar ou dar-nos as boas vindas à Argélia, ou ainda reclamar que a matricula está muito suja, ou que um dos documentos está caducado, ou apenas que temos um belo nome. Muitas vezes quando descobrem que somos portugueses dizem logo: “Figo, Ronaldo”, ao que a malta responde logo “Madjer” e pronto o clima ficou logo mais animado, o futebol nacional ao serviço das relações internacionais. No fundo estas barragens, apesar de ineficazes dentro da politica de segurança do faz de conta, são já umas das atracções da estradas argelinas.

Redoah, Inchalá

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Transito II

O trânsito continua a ser uma das maiores atracções da Argélia. Tudo é possível ver nas estradas deste país, no único local onde os argelinos fazem tudo depressa. Aqui eles têm sempre pressa, qualquer espaço serve, qualquer contravenção é possível desde se chegue primeiro, muitas vezes com a conivência das autoridades. Uma das muitas curiosidades é as vias de três faixas onde a faixa do meio é para quem chegar primeiro (ver foto). Outro aspecto interessante são os transportes de grandes dimensões, que não Europa são denominados transporte especiais porque implicam carro piloto, sinalização especial e horário específicos de circulação. Aqui também são especiais por que usualmente fazem sempre estragos, normalmente circulam a qualquer hora, sem escolta e sinalização, o estudo do percurso é feito em andamento e na fé de Alá que em princípio passa. À saída de Mostaganem existe uma ponte que estava constantemente a ser abalroada. Para proteger a ponte, a cerca de um mês foi colocada uma estrutura para balizar a altura máxima, o resultado pode ser visto na foto. A questão que se coloca é : “Porquê tanta pressa?” dado que chegados ao destino ficam horas na palheta em volta de um café. Nas estradas argelinas o lema é “Quanto mais depressa chegar ao destino mais tempo tenho para não fazer nada”.

Redoah, Inchalá

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Ramadão

Chegou o Ramadão, o mês lunar mais conhecido do mundo Muçulmano. Neste mês os locais não podem comer, beber, fumar, ter contactos sexuais (Grande coisa, nós aqui também não, bem feita!) ou qualquer comportamento anti-social desde do nascer até ao pôr-do-sol. E efectivamente o pessoal cumpre, o problema é para trabalhar, porque assim que nos aproximamos do meio-dia começam a desacelerar e a partir das três não fazem mais nada. Todos eles dizem que não custa nada e provam ao Ocidente que são capazes mas a quebra de capacidades é notória e a súbita irritação também, em particular naqueles que fumam. Embora só possam comer a partir das sete, às quatro vão todos as compras para preparar o jantar, entre as setes e às oito não se vê ninguém das ruas. A partir das nove começam a invadir as ruas e aí ficam a confraternizar até às duas da manhã. Para eles é uma festa, nas ruas vendem-se bolos especiais desta ocasião, com uma dose excessiva de açúcar, quase todas a lojas estão abertas e até as mulheres têm direito andar na rua a esta hora. Conclusão, no dia seguinte não só andam cheios de fome como andam cheios de sono. O pior é para os estrangeiros, porque os restaurantes estão todos fechados durante o dia, temos de evitar comer, beber ou fumar a frente deles e depois a coisa pode-se pegar porque já temos um ou dois que também começaram a fazer o Ramadão. Segundo os locais, um não muçulmano que se converta é dos primeiros a entrar para o Céu. Depois de ouvir isto, é que eu não faço Ramadão, quanto mais tempo demorar a entrar para o céu mais tempo fico entre os vivos….Safa….

Redoah, inchala

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Comércio Local

O comércio local é outra das características deste país e em particular em Mostaganem, as lojas dividem-se no global, em cafés, mercearias e táxi-phones (Tipo cabine telefónica mas com vários postos). Nos cafés, claro que imperial népia, só café, chá ou laranja, para além disso na maior parte deles as mulheres não podem entrar, a não ser que o café tenha a chamada sala familiar (Ver foto). Pois é, aqui não há misturas, só acompanhado é que se entra nessa sala, é uma sala restrita, coisa fina. As mercearias aqui crescem como cogumelos, em qualquer lado há uma ou duas juntas, mesmo em becos onde praticamente não passa quase ninguém. Estes estabelecimentos fazem lembrar Portugal à 30 anos atrás, vendem de tudo: detergentes, comidas, bebidas, lâmpadas, pilhas etc. O curioso destes estabelecimentos é o horário, muitas delas estão abertas até de madrugada, o que para mim dá me imenso jeito. No fundo estas lojas são o que nós chamamos de lojas de conveniência, como se pode observar este conceito já existe aqui há algum tempo. Esta oferta comercial é complementada em Mostaganem com um supermercado em que os artigos não abundam e algumas prateleiras estão meias vazias mas já existe leitura por código barras, a tecnologia está a chegar. Finalmente as táxi-phones são lojas que praticamente não existem na Europa, trata-se de espaço onde estão 3 ou 4 cabines para telefonar onde se paga ao minuto. Não se consegue perceber bem a utilidade das dezenas destas lojas espalhadas pela cidade dado que aqui qualquer habitante tem um telemóvel e normalmente da última geração, o seu horário é o mesmo das mercearias. Todos estes tipos de lojas funcionam muitas vezes como ponto de encontro à noite pois não hà mais nada a não ser a rua.


Redoah, inchalá

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Visita Presidencial

As férias já terminaram e portanto cá estou de regresso ao segundo maior país de África. Este país que procura a paz desde do início da independência em 1962, tendo a esperança de acalmia surgido quando Abdelaziz Bouteflika se tornou presidente em 1999, estando ainda actualmente no poder. Há cerca de um mês deslocou-se a região de Oran- Mostaganem para uma série de inaugurações num estilo muito ao jeito de Alberto João Jardim mas noutra galáxia, tendo efectuado 64 inaugurações em 4 dias, algumas às onze da noite. As suas visitas são um acontecimento nacional e as regiões que o acolhem recebem uma beneficiação estética, fazem-se em 3 semanas as obras que já deveriam estar feitas à meses, surgem bandeiras nacionais ao longo do trajecto (ver foto) acompanhadas por fotos do presidente por todo o lado. A questão da segurança é levada ao extremo, nas estradas por onde ele passa havia um polícia de 50 em 50 metros ao longo de dezenas de quilómetros. Todas as viaturas estacionadas na proximidade da estrada e dos pontos de visita foram removidas, todos os locais de visita foram revistos de véspera e ficaram de quarentena até a sua passagem. A comitiva era composta por mais de 30 viaturas, um helicóptero que acompanhava todo o trajecto e ninguém sabia o horário certo das inaugurações. Pelos vistos, os procedimentos estão correctos, dado que ontem a visita presidencial sofreu um atentado que resultaram 12 mortos e 23 feridos, o presidente já não se encontrava no local. Apesar disto a calma mantém-se pelo menos deste lado da Argélia. Já agora ao meus caros ciberbloguers não fazem uns comentáriosinhos para manter a interactividade...

Redoah, InchAlá

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Férias

Caros CiberBloguers estou em falta com o site mas efectivamente não tive qualquer hipótese de fazer o artigo a semana passada mas tive completamente dedicado a missão de produzir tubos e finalmente as coisas parecem sorrir o primeiro já viu a luz do sol (foto). Agora vou de férias por isso o site também vai entrar de férias, regressa no início de Setembro. Quero agradecer as vossas visitas graças a número de visitantes algumas empresas argelinos estão a pensar a sponsorizar o site. Peço é que também deixem os vossos comentários, os argelinos gostam de ler….

Férias e Portugaaaaaaaaaaaal here I go

Redoah, Inchalah

sábado, 4 de agosto de 2007

Grupos de Esplanada Instantânea - GEI

Durante a maior parte do ano em Mostaganem, a partir das nove da noite não se vê praticamente ninguém nas ruas mas no verão o cenário é completamente diferente. Neste período de calor, coincidente com a vinda dos imigrantes sobretudo de França, as ruas e os cafés enchem-se até a meia-noite. Os cortejos de casamento com habitual “Renault Express” à frente com o camera-man, proliferam, o pessoal nos cafés a beber uma garrafita de água de litro e meio, um chazinho ou um geladinho e montes de veículos a passear de um lado para o outro. Um fenómeno que acompanha esta animação são os Grupos de Esplanada Instantânea (GEI), os GEI acontecem em qualquer lugar, seja no mais iluminado como no mais escondido. Os GEI não são mais que uma aglomeração instantânea de homens que se junta, normalmente nos passeios, sentam numa cadeirinha de praia que trouxeram com eles, e lá ficam a conversar, a olhar para o céu ou a ver os carros passar. Aqueles de menores recursos sentam-se mesmo no chão, aqueles com mais posses estacionam a viatura, tiram as cadeirinhas colocam no passeio junto ao carro, rádio em altos berros e ali ficam a curtir o som e ver a banda a passar. Dado não existirem muitas distracções nocturnas a seguir ao jantar, os homens e os jovens formam estes ajustamentos semi-organizados. Os GEI’s são um fenómeno característico deste povo pois eles vivem muito para a comunidade daí que não espantam que estes surjam em qualquer lugar.
Redoa, Inchalah

sexta-feira, 27 de julho de 2007

Controles no Aeroporto

A semana passada não tive oportunidade de efectuar a habitual crónica porque, como alguns sabem, viajei para o nosso maravilhoso Portugal, infelizmente já estou de regresso. Essa viagem é efectuada por avião lamentavelmente não há voos directos. Sair da Argélia pelos aeroportos é em si mesmo uma aventura, a primeira dificuldade é entrar no aeroporto dado que existe logo à entrada um controle de raio-x a todos, para não levarmos uma bombita para o interior ( Isto é que é segurança). A seguir passarmos mais uma barreira policial onde apenas entram os passageiros, vamos para a fila do check-in dos voos internacionais, a confusão é aceitável, já nos regionais é o caos. Depois preenchemos um formulário de saída e passarmos mais uma barreira policial, chegamos a um guichet onde entregamos o formulário, aqui podem surgir complicações se o visto já tiver expirado, dado que é necessário visto para entrar e sair do país, às vezes isso acontece. Passado este controle, surge mais um polícia a pedir documentos e se temos algo a declarar, segue-se mais um controlo de raio-x à bagagem de mão e detector de metais. Mesmo que o detector não apita, temos de ser sujeitos a uma apalpação por vezes exagerada (parece que o tipo que está lá gosta, eu que não) para finalmente chegamos a sala de embarque. Pensam que terminaram os controlos, nada disso, entramos num autocarro tipo aqueles da carris dos anos sessenta, até junto do avião. No chão da pista encontram-se todas a bagagens que o pessoal entregou no check in tendo agora de as ir identificar para colocar num carrinho senão não embarcam, a chamada identificação “in loco”. Mas ainda não acabou, antes das escadas de acesso está montada uma bancada com aquelas mesas de campismo, a cair de velha, onde as malas de mão são novamente revistadas e finalmente a porta do avião está o último controlo que com um detector de metais portátil para examinar o pessoal. Quando finalmente nos sentamos no lugar aguardamos que o avião levante voo para aí sim respirarmos de alívio.
Redoah, Inchalá

sexta-feira, 13 de julho de 2007

Um Casamento Diferente

O casamento é umas das cerimónias onde mais sobressaem as diferenças culturais, aqui não é excepção. Sendo uma sociedade muito tradicional, por aqui muitos dos casamentos ainda são combinados e delineados pelos pais dos noivos e foi para uma destas cerimonias que eu e alguns dos meus colegas fomos convidados. A cerimónia realizou-se num restaurante dividido em duas salas, numa das salas ouvia-se um conjunto acompanhado por uns gritos similares aos dos índios mas mais agudos, são feitas pelas convidadas e são uma espécie de felicitações para a noiva. No entanto não vimos o interior da sala, fomos conduzidos para a outra sala onde estava o pessoal a comer, só homens claro. O noivo apareceu para nos cumprimentar e pimba quatro beijocas em cada um, atrás veio o pai do noivo e pimba mais uma dose. Sentaram-nos numa mesa com cadeiras de plástico partidas, a minha não tinha costas, e em cima da mesa apenas os talheres com bocados de comida agarrada, já devia ter servido para outros convidados. Isto estava a começar bem. Um de nós lá ganhou coragem para falar com o noivo e lá nos trocaram os talheres. A comida nem foi má, lá comemos razoavelmente todos do mesmo prato incluindo a sopa , onde cada um com a sua colher a comer da mesma malga. Finalizada a refeição, saímos todos para efectuar o passeio dos alegres que tantas vezes vimos passar. A frente vai uma carrinha com uma câmara de filmar a registar estes momentos de folia, a coluna de veículos só com homens nos seus carros com os quatro piscas e apitar, pelas ruas de Mostaganem, uma verdadeira loucura! Lá paramos num ermo para tirar as fotos da praxe (só homens claro) e vinte minutos depois voltamos ao ponto de partida. A maior parte do pessoal dispersa e vai para casa, e nós, como uma espécie de convidados especiais somos convidados a entrar na sala de onde vinham os gritos. Na frente, um palanque com o noivo e a noiva, esta vestida como uma princesa, sentados numas cadeiras de realeza, ao lado o conjunto a tocar e a seguir filas de cadeiras onde deveriam estar sentadas umas cinquenta mulheres. Seguiu-se uma sessão de fotográfica no palanque onde nós também fomos convidados a participar e na qual nos sentimos como se estivéssemos numa exposição. Passado algum tempo os noivos retiraram-se sob os habituais gritos de índios esganiçados, e viveram felizes para sempre, Inchalah

sábado, 7 de julho de 2007

Transito - I

A circulação rodoviária é talvez uma das principais preocupações da Argélia, não é por acaso que é um dos países com maior índice sinistralidade nas estradas no mundo. Para os portugueses o perigo dos extremistas não é nada comparado com a selva nas estradas da Argélia. Aqui os seus condutores são divididos em duas categorias, os “cafeteira”, que fervem em pouca água, e os “mohamedes”, os chamados condutores de Domingo. Ora os “cafeteira” fazem tudo para chegar ao destino, ultrapassam por todo o lado, basta haver um espacinho, mesmo que seja na faixa contrária. Eu próprio já encontrei alguns na minha frente, e o engraçado é eles é que fazem sinais de luzes para aqueles que vêm na sua faixa se desviarem. Os traços contínuos e as zebras são meramente decorativos e depois há uma feliz convivência entre camiões, ligeiros, tractores, ovelhas atravessar a estrada (ver foto) e carroças, estas muitas vezes em sentido contrário, o que é compreensível pois o burro não aprendeu as regras de trânsito. Sentidos contrários aliás são uma das favoritas habilidades dos argelinos, se tivermos uma via rápida com separador central em que para inverter o sentido teríamos de andar cerca de 1 km, quando o cruzamento mais próximo está a 200 mts atrás, então toca a colocar-se em sentido contrário até ao cruzamento ( numa via rápida !! ) e outros que se desviem. Rotundas em sentido contrário também se fazem, se temos de ir para a saída da rotunda logo ao lado, para quê dar a volta a rotunda toda, vira-se logo aí. Confesso que eu próprio já me vou especializando nesta arte, neste momento já vou na minha quinta rotunda em sentido contrário, quando chegar a décima terei condições para obter a carta argelina. Isto no fundo é o chamado intercâmbio cultural no seu sentido mais puro. Na Argélia sê argelino


Redoah Inchalah

sexta-feira, 29 de junho de 2007

Uma ida a Praia

A praia na Argélia, é uma das poucas opções de lazer disponíveis para os estrangeiros e locais. A sua costa com mais 1000 km apresenta um número variado de praias no qual se inclui as belas praias da região de Bostaganem. Dado que este fim-de-semana não houve hóquei e havia muito trânsito para o Fórum Almada, optei por ir até a praia com uns colegas. Assim que estacionamos o carro lá chega o simpático arrumador a dar indicações para arrumar num parque praticamente vazio, mas verificamos logo uma diferença, aqui só pagamos a saída. Ao deslocarmos ao longo da areia passamos logo do lixo deixado pelos locais, o objectivo é conseguir encontrar um espaço de 4x4 metros sem lixo. Com maior ou menor dificuldade lá encontramos um espaçinho para estender a toalhita. Depois de observarmos em redor verificamos logo que a grande maioria dos banhistas são homens e que as mulheres estão muito agasalhadas. Elas tem tanto frio que até para a água levam a roupinha (Ver foto). É verdade o biquini ainda não chegou a estas terras, no entanto isto está evoluir já se vêm alguns fatos de banhos. Muitos trazem a famelga assentam arrais de manhã, comem e bebem (água !!!) e depois no fim os detritos ficam lá (ver foto) . A parte estas diferenças culturais, o sol é bom, a água tem uma temperatura amena e é razoavelmente limpa. A imperial à beira mar é que não é possível, ou um sumito ou água, cachorros e sandes de coirato também não há (que mania que eles tem contra a carne de porco). E assim se passa o tempo neste fim de mundo.

sexta-feira, 22 de junho de 2007

Saudade

Salamaleque,

Saudade, penso que só estando numa situação similar a minha se consegue perceber o alcance desta palavra. Tudo o que estamos habituados mudou, a família, os amigos, os hábitos, a ideologia, a liberdade enfim o modo de vida. Penso que a saudade é quando valorizamos momentos que a partida não damos importância como estarmos sentados num pavilhão a ver o treino dos nossos filhos, vamos ao café com os amigos ou mesmo ver televisão no nosso sofá. Apesar da vida aqui não ser nenhum inferno (ver foto - praia em Beni Saf ) , é quando estamos longe e num ambiente um pouco hostil e restritivo que damos valor a Portugal, um país onde todos reclamamos, criticamos mas nada fazemos para mudar. Estamos nos a tornar um país de consumo, de centro comerciais e sobre tudo de indiferença, cada vive a sua vida e o resto que se lixe, apenas alguns tentam remar contra a maré e devíamos ser mais. A verdade é que eu próprio também era um pouco assim mas esta experiência abriu me uma nova perspectiva sobre o modo de encarar a vida dando mais importância aos pequenos momentos. Cada vez que regresso por alguns dias eu bebo com satisfação todos os minutos como se todos fossem especiais, até das filas da segunda circular tenho saudades porque significava que estava aí.
O meu fim-de-semana termina enquanto o vosso começa. Divirtam-se que a quem tenha de trabalhar. Este texto puxou um pouco ao sentimental mas há dias assim.
Redoah, inchalah

quinta-feira, 21 de junho de 2007

As casas de banho


As casas de banho são talvez um dos maiores mistérios do mundo muçulmano. A quase um ano que estou no seio de um país muçulmano e ainda não percebi como é que eles fazem. Primeiro não existe papel higiènico, em sua substituição ou temos o tradiconal balde de água ( ver foto), ou uma torneira ou ainda mais evoluido um chuveiro ao nivel dos joelhos. Agora perguntam vocês : " Como é que eles fazem ? ". Bem não posso afirmar porque, felizmente, nunca tive presente, mas o que me dizem é depois da evacuação, para se limpar, usam a mão esquerda, fazem o chape-chape com balde ou repuxo com o chuveiro e o resto vai a mão ( A esquerda!!! ). E depois lava-se a mão e já está. Atenção todo este trabalho tem de ser exclusivamente executado com a mão esquerda pois esta é considerada impura, nunca podemos cumprimentar ninguém com a mão esquerda, será considerado uma ofensa. E também só de pensar onde aquela mão poderá ter andado, nem eu queria. Agora a questão que eu me pergunto é como é que conseguem utilizar o repuxo sem se molharem todos, sim porque a operação é executada de baixo para cima.
Para terminar mais uma lição de árabe : Choéla ? ( O quê ? )

Redoah, Inchalah

domingo, 17 de junho de 2007

Hóquei no fim do Mundo


Uma das minhas missões nesta estadia no mundo Muçulmano é de descobrir novos talentos do hóquei em patins.Uma das dificuldade foi lhes explicar o que é o hóquei em patins. Efectivamente nesta maravilhosa cidade à beira mar plantada onde habito, denominada Mostaganem e já carinhosamente apelidada de Bostaganem pelos portugas (vai se lá saber porquê) não existe hóquei em patins.
Tendo em conta as palavras do último comentador, poderia realmente transformar a fábrica num gigantesco complexo desportiva, afinal sempre são 17.000 m2 cobertos (ver foto), outra solução seria fazer uma mega discoteca, tipo Kadoc, mas com musica rai e mulheres tapadinhas, tipo kinder supresa ( assunto para ser desenvolvido noutra ocasião ).
Uma das coisas que nos causa mais confusão, é os fins de semana. Aqui o fim de semana é a Quinta e Sexta, a semana começa no Sabado, normalmente ninguém sabe em que dia da semana está. Ao menos aqui saimos as Quintas a noite, é Ladys Muculmanas Night. Se os jogos fossem a Quinta e Sexta o que é que os pais fariam aos Sábados e Domingos ?

Quero terminar dando os parabéns aos miudos que participaram no torneio de Turquel e por aqui se verificou que não é necessario exportar talentos para o Sporting, como referido pelo último comentador.

sexta-feira, 15 de junho de 2007

CDPA - Crónicas Dum Português na Argélia

Boa tarde,

Fui desafiado pelo Miguel para fazer um blog ligado ao rejuvenescido site do PA. Dado que devo de ser um dos poucos adeptos do PA implantado no coração do Mundo Muçulmano, optei por criar um blog para todos os simpatizantes do PA espalhados pelo Mundo, incluindo Portugal, no qual pretendo dar noções sobre a vida noutros paises, uma espécie de programa cultural/humorístico e umas dicas de arabe pode ser sempre útil.

Por agora é tudo,

Redoa, Inchalah ( Até amanhã se Deus quiser, neste caso se Alá quiser )